segunda-feira, 16 de abril de 2012

Patrimônio Material de Itapajé!


CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PENHA DE FRANÇA
Itapajé





As origens de Itapajé e a capela em Santa Cruz

Itapajé, assim como muitas outras cidades cearenses, surgiu através de peregrinações dos jesuítas na intensão de catequizar a população. Por volta do ano 1607, os jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira encontraram índios da tribo dos Guanacés nas proximidades do atual distrito de Missi, pertencente hoje a Irauçuba. No início do século XVIII, frei Vidal da Penha desenvolvia sua missão percorrendo algumas serras do norte cearense. Por onde passava, frei Vidal fincava uma cruz de madeira para marcar os lugares que tinha evangelizado. Um desses lugares foi Santa Cruz de Uruburetama (hoje um distrito de Itapajé).

No final do século XVIII,o Ceará ainda passava por um processo de propagação da religiosidade. Por isso, existiam poucas instituições religiosas, tendo o estado apenas 14 paróquias. Foi exatamente nessa época que o Ceará ganhou duas novas capelas: a primeira era a de Nossa Senhora da Penha de França, em Santa Cruz de Uruburetama, no ano de 1793; a segunda, a de São Francisco das Chagas em Canindé, no ano de 1795 (embora tenha sido projetada em 1775 pelo português Francisco Xavier Medeiros). Ambas pertenciam à Paróquia de Fortaleza.

Apesar de ser mais nova, a capela de Canindé conseguiu sua elevação à Matriz antes que a capela de Santa Cruz. Esse fato ocorreu em 11 de agosto de 1817 pelo bispo de Olinda Dom Frei Antônio de S. José Bastos. Sendo assim, Santa Cruz, que antes pertencia à Paróquia de Fortaleza, agora pertencia à Paróquia de Canindé, que se estendia desde o oeste, até a serra de Uruburetama, onde fazia divisa com a Paróquia de São Bento da Amontada (que corresponde nessa área à Itapipoca).

Alguns documentos dão maior comprovação da subordinação da capela da Santa Cruz à Paróquia de Canindé. Existem muitos assentos de casamentos e batizados, porém, destacaremos o do Capitão Manuel Rodrigues Barreto com Luisa Francisca de Sousa:

"Aos vinte e três de novembro de 1839 pelas 5 horas da tarde, na capela de Santa Cruz de Uruburetama, Freguesia do Ceará, depois de corridos os banhos de sua naturalidade sem impedimento, confessados e examinados na doutrina cristã, o Revdo. Francisco Rodrigues Barbosa, de licensa minha, assistiu ao matrimônio de Manoel Rodrigues Barreto, viúvo de Geralda Teixeira de Matos, com Luisa Francisca de Sousa, filha legítima de João Bonfim e Joana Francisca da Conceição, despensados no segundo grau de sanguinidade, os nublentes naturais e moradores dessa Freguesia de Canindé e logo lhe dei as bênçãos nupciais na forma do Ritual Romano, presentes as testemunhas João Ferreira Gomes e João Francisca Ferreira. E para constar mandei este assento em que me assino. O vigário Manoel Thomaz Rodrigues Campêlo." (XAVIER, Padre Luis Gonzaga. Dom Aureliano Matos no centenário de seu nascimento, p. 25-26)

Outro documento que comprova o início do funcionamento da capela no dia primeiro de fevereiro de 1793, é o termo de abertura do livro de assentamentos de batizados:

"Este livro há de servir- para nelle se lançarem os assentos dos batismos que na nova capela de N. Senhora da Penha da França, cita na serra de Uruburetama fossem feitos: e vai numerado e rubricado com a firma Saldª de que uso: e o R. Capellam será obrigado a fazer os ditos assentos e para constar fiz este termo nesta serra de Uruburetama, freguesia de Fortaleza- em vista, ao primeiro de fevereiro de 1793. João José Saldanha Marinho, Visitador." (XAVIER, Padre Luis Gonzaga. Dom Aureliano Matos no centenário de seu nascimento, p. 25-26)

Somente depois de vinte e cinco anos da Paróquia de Canindé é que a capela de Nossa Senhora da Penha de França foi elevada a Matriz. Esse fato ocorreu em 3 de dezembro de 1842, pela Lei nº 262, porém só foi instituída canonicamente sete anos depois pelo bispo de Olinda D. João da Purificação Marques Perdigão. Neste mesmo ano houve a criação do município pela Lei nº 502 de 22 de dezembro.

A transferência de sede

Na primeira metade do século XIX, enquanto Santa Cruz - agora paróquia - desenvolvia-se lentamente, um pequeno arraial, no sopé da serra, passava por constante crescimento. Esse arraial chamava-se São Francisco dos Ipús (devido aos alagadiços que, em linguagem indígena, era ipús) e teve como fundador, segundo alguns historiadores, Antônio Rodrigues Martins, o "carola", no ano de 1939.

Nesse período, São Francisco dos Ipús passava por uma grande desordem, principalmente no âmbito político, o que provocou muitos confrontos. Devido a essa desordem e em meio a tantas lutas, teve o arraial um segundo nome, sendo chamado agora de Riacho do Fogo.

Mesmo com essas turbulências o arraial continuava se desenvolvendo e já começava a se destacar tanto quanto Santa Cruz. Com isso, em 19 de dezembro de 1837, o casal Francisco da Cunha Linhares e Dominga Pereira Pinto, que moravam no Riacho do Fogo, decidem doar um terreno para a construção de uma capela que ficou construída em 1847 por Francisco Miguel de Andrade, sendo ela dedicada a São Francisco de Assis.

No dia 20 de Julho de 1859, pela Lei nº 886, o presidente da Província Lafayete Rodrigues Pereira, que geria a região, comandou a fusão das localidades de Santa Cruz e Riacho do Fogo. Este fato só veio anteceder o que viria a acontecer cinco anos mais tarde.
Com a unificação das duas localidades, a região recebeu seu terceiro nome e passou a se chamar São Francisco de Uruburetama.

Devido ao grande desenvolvimento desempenhado pelo antigo Riacho do Fogo, e já que agora as duas localidades estavam juntas, o presidente da província no dia 21 de novembro de 1864, pela resolução nº 11decidiu transferir a sede da Paróquia de Santa Cruz para a capela de São Francisco de Assis, aquela que tinha sido construída em 1847 e que agora era transformada em matriz.

A capela em Santa Cruz hoje 

Hoje Santa Cruz é um distrito muito importante para Itapajé, sendo um dos mais povoados e organizados. Apesar de ser distante da sede, atrai muitas pessoas devido à sua importância histórica.

A capela de Nossa Senhora da Penha de França, com suas portas e estrutura centenárias, resiste valentemente ao tempo, já que ainda não foi feito um trabalho de restauração e também não foi desenvolvido um plano de tombamento. As poucas ações que foram promovidas na tentativa de preservação da capela foram algumas pinturas, reformas no telhado, manutenção na parte elétrica, adaptações no patamar e outras pequenas reformas que não condizem com a grandiosidade histórica que ela representa para Itapajé, já que ela foi a segunda capela do município (a primeira foi a de Nossa Senhora do Rosário e situa-se dentro do cemitério de Santa Cruz) e uma das primeiras do Ceará. A falta de informação da comunidade que trabalha na capela fez também com que muitas modificações em sua estrutura física acontecessem. Pouca coisa na capela é original: foi mudado o piso, tiraram o coro e foram feitas pequenas mudanças no altar.

Na capela existem as covas de cinco integrantes da família Bastos, uma das mais tradicionais da cidade. Uma dessas covas é a do Coronel Júlio Pinheiro Bastos, que já foi prefeito e que era praticamente o dono de Santa Cruz. Júlio Bastos foi protagonista de um polêmico episódio nessa região, quando foi acusado pelo homicídio de outro coronel, o Cel. Braga. Júlio Bastos alegava ser inocente, mas, mesmo assim, pagou uma pena de treze anos, sendo que pra onde quer que ele fosse teria que ser acompanhado por um soldado. Sedento em provar sua inocência, Júlio Bastos fez uma promessa a Nossa Senhora da Penha pedindo que fosse descoberto o verdadeiro assassino antes de sua morte. A graça foi alcançada, pois descobriram que o assassino havia sido o cunhado da vítima a mando de sua própria esposa.

Existe uma lenda entre os populares que diz que a capela cairá no primeiro dia de um indeterminado ano, mesmo assim, a época em que a capela recebe maior visitação é durante o novenário de Nossa Senhora da Penha, que dá-se do dia 23 ao dia 31 de Dezembro. Durante a festa milhares de pessoas marcam presença, principalmente na missa de encerramento que acontece no dia 1º de Janeiro. Nessa ocasião, peregrinos de toda Itapajé vão pagar sua promessas, sendo que muitos deles vão caminhando, não se importando com a distância.

Itapajé hoje dá mais importância a capela de Nossa Senhora da Penha no âmbito religioso. Assim como muito outros municípios, ainda não existe uma consciência preservacionista de seus patrimônios. Porém, alguns professores de História e alguns universitários estão se organizando para que isso não aconteça mais, pois tão necessário quanto preservar nossos patrimônios, é fazer com que a população os considerem importantes.

BIBLIOGRAFIA

BASTOS, Maria Zelândia Sales. Histórias da Minha Terra. Fortaleza: Realce, 2006.

MESQUITA, Ricardo Carneiro de. Conhecendo o Município. Fortaleza: Art & Cores, 2007.

XAVIER, Pe. Luís Gonzaga. Dom Aureliano Matos no seu centenário de nascimento, p. 25-26

Um comentário:

  1. Prezado Jonas Gomes, belíssima foto da Igreja da Santa Cruz da Uruburetama, local de nascimento de meus avós, bisavós e trisavós. Local onde eu passava minhas férias escolares e onde nasceu o meu avô materno o Luis Gonzaga Barroso (Pinheiro) Bastos. Lá ele fabricava a famosa cachaça Flôr da Serra em engenho mecanizado e eletrificado, o primeiro de toda a Serra da Uruburetama. Meus bisavós e trisavós descansam em paz nesta Igreja.

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