Quando aproxima-se o fim do ano é comum que as pessoas fiquem mais emotivas, que as lembranças de tudo aquilo que se passou nos faça refletir em que podemos e/ou devemos
Um morador do meu bairro ia à casa de sua namorada, na véspera do Natal, quando foi abordado por dois assaltantes: levaram tudo de valor que ele tinha, inclusive seu relógio à prova d'água (o assaltante, que foi capturado dois dias depois, disse que só levou o relógio à prova d'água porque "em Itapajé nem tem água mesmo!"), um óculos de sol exclusivo para a noite, e o CD novo da banda Legião Urbana. A violência realmente tem atrapalhado os planos das pessoas de bem, e o pior é que não se vê nem um tipo de providência para que a segurança retorne ao município do interior cearense.
O setor do comércio que mais cresce em Itapajé é o tráfico de drogas (seguido de perto pelo comércio de água, e pelos "ovos do tiririca", ambos temporários), fato que influencia para o aumento da violência. Uns dias atrás, movido pelo espírito natalino, resolvi visitar um amigo que a muito tempo não via. Ao vê-lo minha surpresa foi grande: ele estava completamente sujo, debilitado, deprimido, viciado em drogas e usando uma camisa do Corinthians. Aquela situação me revoltou, afinal como pode meu amigo regredir a ponto de usar a camisa do Corinthians? Quando ele me viu se alegrou bastante e rapidamente pediu que eu lhe fizesse um grande favor. Contou que já estava com dificuldades de caminhar e pediu que eu lhe comprasse sua droga e, reforçou ele, se eu fizesse esse favor ele não saberia como me pagar. Aceitei o pedido que ele me fez e pedi o dinheiro para comprar sua "encomenda", mas ele novamente repetiu o comentário: "não sei como pagar". Confesso que senti vontade de socar a cara dele, mas fazer o quê... era Natal. Fui procurar o "comerciante" e, ao chegar na boca, aliás, na casa, perguntei: "é aqui que mora o 'fulano' que vende droga?". Uma voz ecoou de dentro da casa em resposta à minha pergunta: "Não, o 'fulano' mora do outro lado da rua mas, se você quiser, aqui também vendemos". Aquilo me desconcertou, resolvi voltar pra minha casa dali mesmo, a noite se aproximava.
Ao me deitar, antes de dormir relembrei o meu dia, da situação que Itapajé se encontrava, do medo que sentimos ao sair de casa, e da decepção que senti ao ver meu amigo naquele estado... com a camisa do Corinthians!
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